quinta-feira, 19 de outubro de 2017

                  RAÇA NEGRA UMA LIÇÃO DE VIDA 


UM DOS PRECURSORES DOS NEGROS DO LUDUGÉRIO - TOTORÓ 

DORINHA NASCIMENTO NEGRA E EX- SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DE CURRAIS NOVOS-RN
NEGROS DO RIACHO

DORINHA NASCIMENTO



Eles eram trazidos à força para o Brasil e o que os esperava aqui, era uma vida de sofrimento, maus tratos, açoites e torturas. “Trabalhavam “sem parar, eram fiscalizados pelo feitor, que os açoitavam com chicote de couro cru “o bacalhau”. Na África, de onde vinham, esses povos tinham a sua própria história, inclusive religião e sua sabedoria. Mas aqui no Brasil os laços familiares eram destruídos. Ninguém os protegiam, eram considerados povos sem “alma”, vendidos como animais olhavam os dentes para adivinhar sua idade. Suas genitálias eram cuidadosamente examinadas, a fim de garantir uma boa reprodução, afinal era a mão de obra escrava. Essas e outras histórias são conhecidas pelo nosso povo, mas a maior lição que podemos tirar de todas essas e outras é a resistência do negro que veio a culminar, orgulhosamente, com uma grande DIVERSIDADE CULTURAL. 


Hoje, infelizmente, no Brasil, o racismo, ainda é, uma realidade e que nós, em sua grande maioria, tentem a esconder, `falando com a maior naturalidade que todo mundo é igual.  Mas, a verdade é que muitos que não dizem , pensam e alguns ainda, desabafam raivosamente: É negro por derradeiro... Lugar de Negro é na cozinha e assim por diante. Na prática, mesmo sem percebermos, sempre se afirmou a inferioridade do negro e que mesmo com várias conquistas, ainda estamos longe do almejado, justo e digno.
E nesse sentido, numa das entrevistas que fiz, a de DORINHA NASCIMENTO, foi uma das mais interessantes, no dia 30 de novembro de 2003 para uma página do JORNAL A NOTÍCIA, de Currais Novos/RN. Vejamos:
Liberdade se toma não se recebe, dignidade se adquire não se concede. Com essas palavras, Dorinha Nascimento, com gestos faceiros e sorrisos nos lábios, resquícios de sua raça negra, chega e senta para conversar conosco.
Eu: Como você se sente sendo negra?
Ela: - Sinto-me muito bem, sou muito original e na outra reencarnação, se eu tivesse que voltar, queria ser esta mesma negra, que incomoda. Risos...
Eu: O que é necessário para enfrentar essa discriminação em relação ao negro?
Ela: - Primeiro é estudar muito, renovar sempre seus conhecimentos, procurar ver a questão do negro em outros países e criar espaços para que outras pessoas se entrosem e venham a formar um verdadeiro “Movimento Negro Organizado” e só assim, e só assim é que seremos mais fortes para enfrentar e vencer qualquer tipo de discriminação.
Eu: É importante para o negro a valorização de sua cultura?
Ela: - Sim, através da  capoeira, uma rodinha de samba, do pagode, da poesia, dos hábitos, dos costumes como: “ uma caipirinha”, que o negro gosta, da macumbinha(rsrsrs), do candomblé, e principalmente, da alegria que não pode faltar, é do negro, vem da alma, de sua cultura e também da África.
Eu: Dorinha, fale um pouco da história, da vinda do negro para Currais Novos!
Ela: - Os primeiros negros que aqui chegaram, vinham de Pernambuco e sei que vieram cuidar dos Currais. (...) e nessas idas e vindas chegaram também meus parentes, desta vez da Paraíba.
Meus Pais vinham de lá, mas se conheceram aqui filhos de famílias escravas e posteriormente de “tropeiros” e foram em tropas de animais que aqui eles chegaram.
Eu: E como foi sua infância? Muito feliz, numa família muito pequena, eu, Chico de Berto e Dolores. Toda vida gostei de estudar e quando era mocinha surgiam muitos convites para trabalho, mas sempre como empregada doméstica. Papai queria, mas eu não, e certo dia, num período de férias, o Capitão Rubens Pereira veio procurar-me para que eu fosse ensinar aos filhos dele, os trabalhos do colégio, eu fui. Queria me levar para o Rio de Janeiro. Hoje, quem sabe, eu seria uma “Benedita da Silva”... risos. E desde esse tempo sou Educadora com muito prazer.
Eu: Dorinha, e os costumes do Negro em nosso município?
Ela: - São tantos... Eles costumavam, com rezas, apagar incêndios, curar as chamadas “bicheiras”( feridas em animais)ou desengasgá-los, e ainda, para desengasgo viravam um “tição de fogo” (pedaço de madeira queimado), e  tantos outros... Dizia-se que um desses, era Seu Bispo, um Senhor que hoje deve ter uns 100 anos e mora lá no “Paizinho Maria”.
Eu: E a respeito dos grupos “negros” em Currais Novos? Sim, temos os do “Bom Sucesso”, que são conhecidos como “Negros do Riacho” e os do Totoró (Os Negros do Ludugérios), por sinal eles ficam até muito tristes por não serem reconhecidos como grupo. E aqui na cidade, as famílias negras tinham uma concentração maior, ali, nas proximidades da Escola Municipal Salustiano Medeiros, perto da Pedra do Rosário. Naquela pedra os negros subiam quase todas às tardes, para fazer suas orações, por isso denominada “Pedra do Rosário”. E grupos existiram dois que Eu e Joabel resgatamos na época em que Ele foi Secretário de Educação (Administração Mariano Guimarães). Eles eram todos negros e do Bairro de “Santa Maria Gorete” e mantinham todo um Ritual: A festa do “Congo”, no mês de outubro, onde o Rei passava três dias com a “COROA”, andavam nas ruas, principalmente na feira, saudando as pessoas, às vezes alguns davam dinheiro a eles, só para manter a tradição, rezavam na Pedra do Rosário e tocavam pífanos, ETC. E tudo, fazia parte da lenda de um Rei que tinha recebido um “Rosário” e perdendo esse “Rosário”, ficou muito triste e obrigou aos negros procurarem, caso não o encontrassem, dentro de três dias,” a peia comia” e se eles achassem, o Rei daria a eles a “COROA”, durante exatamente três dias. Conta ainda a lenda que os negros fizeram preces e acharam o “Rosário”, ficando assim denominada a “festa do Rosário”, em cuja festa o negro é o Rei. Tudo era muito bonito, tínhamos também a “Rainha do Congo”, Dona Charita, casada com seu Manuel Bugi e a sede era ali mesmo, na Capela de “Santa Maria Gorete”, mas, como os negros gostavam muito de tomar uma pinguinha e dentro da igreja ficava um cheiro de cachaça, então, Padre Cortez não gostou e também com a morte de Seu Tadeu o “Rei do Congo”, o grupo acabou.
E como você conseguiu ser “NEGRA” e Secretária de Educação em nosso município de Currais Novos? É aí que está o nó. O racismo é, na verdade o ódio. Existem pessoas que me aceitam bem, mas há outras que não gostam de mim, mesmo sem me conhecer, e quando a gente assume um cargo, onde, quem deveria estar lá, talvez, fosse uma branca, enfrentamos alguns problemas. , Entretanto, sempre procurei estar preparada para lidar com as pessoas, porque o negro tem que sempre fazer mais e melhor, a fim de obter o espaço definido, na sociedade. E consegui ser Secretária, principalmente, porque meu Chefe Político, o saudoso Gilberto Lins, tinha muita coragem e me colocou, na Secretaria em dose dupla. E hoje me sinto feliz e certa do dever cumprido. Eu não gosto de dizer o que fiz, espero que as pessoas reconheçam, mas acho que fizemos muita coisa, exemplo: A criação do carnaval de todos os tempos, o forronovos, o carnaxelita, atenção especial ao atletismo, etc.. Fui Secretária por duas vezes, a primeira no governo de Bitamar, informada por Dr. Gilberto Lins, nessa época o destaque foi a ALFABETIZAÇÃO, pelo MOBRAL...
Eu: - E a negra na política? É a mesma coisa, não é fácil, você observe que, na Câmara municipal, a única negra foi Lourdes de Virgovina e com muita luta.
Eu: Uma mensagem Dorinha?
Ela: - Vou deixar uma do escritor Gilberto Freire: “ Todo Brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz  na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra ou, pelo menos a ginga do negro” Um grande Axé para todos.
                                                           Auridete Alves Cesário Dantas

NEGROS
NEGROS DOS LUDUGÉRIO - TOTORÓ

NEGROS DO RIACHO

   NEGROS DOS LUDUGÉRIO - TOTORÓ




ESSES DOIS GRUPOS SÃO REMANESCENTES DE QUILOMBO
NEGROS DOS LUDUGÉRIO - TOTORÓ


NEGROS DO RIACHO















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